Por Breno Bizinoto
O que acontece sob duas rodas aqui no Brasil parece ser um pouco diferente do resto do mundo. Nem melhor nem pior, mas diferente. É que a gente precisa entender com um pouco de calma por que é que a tão famosa Copa do Mundo de Mountain Bike demorou tanto tempo pra chegar pro Brasil. Na verdade, lá pela década de 90 teve uma Copa do Mundo aqui sim – mas quase ninguém se lembra disso. Onde foi, quem ganhou, como era pista… Alguém aí pra contar?
Do jeito que veio, foi, e com esse histórico pouco importa pra gente hoje em dia. Mas estamos vivendo algo diferente dessa vez. A palavra “legado” começa a aparecer.
Eu conversei com o Rogério Bernardes, o organizador do evento. Ele se abriu pra mim e disse que o sonho dele era que esse evento fosse em Araxá. Lá é tudo mais fácil, a logística seria melhor, tem sinal de internet pra transmissão, o acesso de veículos é mais fácil etc. Petrópolis é tudo muito restrito, uma fazenda fechada por montanhas – das mais lindas do mundo – mas que certamente limitam muitas ações. Falta internet para transmissão e até a visibilidade das câmeras é bem reduzida em um local tão montanhoso.
E no meio de todos esses complicadores logísticos, existe somente um objetivo para o Rogério: “Temos que segurar a Copa do Mundo pra 2023”. E assim sucessivamente, por muitos anos mais. O objetivo não é fazer um ótimo evento pontual, como talvez tenha acontecido na década de 90. Esse ano tem que ser visto por nós como um evento teste para nos permitir entrar de vez para o calendário da UCI. Isso sim é pensar grande.
Isso explica um pouco do motivo da cobrança dos ingressos, que não são baratos. Explica também um monte de outras ações.
O Rogério deixou um despachante de prontidão pra resolver qualquer problema que os atletas gringos tenham ao entrar no Brasil e ao passar pela Receita Federal. Deixou também a turma do aeroporto avisada sobre a situação atípica onde várias equipes vão chegar com centenas de equipamentos caríssimos.
Na parte dos veículos, tem uma empresa de estacionamento gerindo toda a logística dos carros, acessos e controles.
A transmissão ganhou uma “versão brasileira”, que vai ser feita pela SporTV, além daquela que vai ser feita pela Red Bull. Você pode pensar que não vai ter graça assistir pela SporTV, pois a tradicional dupla “Kadeira e Vivi” já é boa o suficiente, mas você já pensou como a versão brasuca vai aumentar o alcance do nosso esporte pro país inteiro?
A sua avó não tem o app da Red Bull Tv, mas vai ter a oportunidade de, passando canais, deparar com aquele evento que ela já ouviu o neto comentar. O Brasil inteiro vai ter essa oportunidade, mesmo que não seja naquele formato super técnico que estamos acostumados.
Já estamos sabendo que algumas marcas vão aproveitar o evento para fazer lançamentos de novos produtos. Acreditamos que, da mesma forma que os atletas brasileiros poderão se destacar no meio dos gringos, as marcas nacionais também vão bater guidão com as marcas estrangeiras. Duvida?
Pois eu conversei também com os empresários que levarão as suas marcas para a feira do evento. Você não acredita quantas ações inovadoras cada um deles está planejando fazer durante os dez dias de evento. Sim, dez dias. Diferente do que acontece lá na gringa, a gente vai ter uma Copa Internacional de Mountain Bike na semana anterior da Copa do Mundo. Mesma cidade, mesma pista, mesma feira, mesmo organizador. Mudam um pouco as marcas que participam, mas as mais conhecidas estarão em ambos os eventos.
Até mesmo os atletas gringos vão chegar mais cedo, para participarem da CIMTB. Aumentamos até o tempo de permanência e a receita envolvida.
Vai ser um evento teste. Praticamente, duas copas do mundo em duas semanas consecutivas. Isso já aumenta a minha expectativa de que em 2023 o Brasil entre de vez para o calendário UCI. Os gringos que se virem pra cruzar o Atlântico todo ano. Já estava sem graça esse monopólio europeu em cima do Mountain Bike. O Brasil chegou pra bater cabeça em todos os aspectos: organização, pista, marcas, atletas, público, clima (essa parte a gente ganha de lavada) e quem sabe até no pódio. Nossa chance é bem alta.
A palavra “legado” já aparece como algo do presente, antes mesmo de a Copa acontecer.
Legado. É isso que podemos esperar da Copa do Mundo. Nos vemos em Petrópolis!
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