Guia do ciclista

18 de abril de 2022 | Categoria: Mountain

Entenda o MTB: O fenômeno Bravinho

Foto: @burnnathan_

Vou explicar por aqui como a gente faz para entender quais são os atletas que vão brilhar na categoria elite, mas o mais importante: o que eles estão fazendo para isso.

Por Breno Bizinoto

Neste final de semana vimos algo que já vinha acontecendo há algum tempo, mas agora foi em uma corrida UCI e com transmissão ao vivo.

Henrique Bravo é um atleta de 16 anos que acabou de ser Campeão Geral na Internacional Estrada Real em Ouro Branco, no percurso reduzido.

Entendam por favor que, percurso reduzido não significa mais fácil, mas somente reduzido – que muitas vezes exige que os atletas tenham características de alta explosividade, devido ao curto espaço de tempo que eles têm para gerar potência em uma prova como foi ali. Entre todas as idades, ele chegou em primeiro. Na sua frente chegou somente um atleta, que competia de bike elétrica – acho que não teve nem dois minutos de diferença entre este e-biker e o Bravinho. Por pouco ele venceria até o campeão das elétricas.

Mas é agora que o negócio começa a esquentar: O jovem atleta tinha competido no dia anterior na modalidade Granfondo. Vocês sabem como é entrar para uma disputa com as pernas pesadas de um Granfondo, menos de 24 horas atrás?

E não pensem que ele fez o Granfondo de brincadeira ou economizando energia pro dia seguinte. Ele mandou um terceiro lugar geral. E nesse Granfondo não tinha percurso reduzido, ele correu com a elite do ciclismo de estrada. Andou o tempo inteiro em um pelotão com Felipe Sales, Ivan Cesar e mais um monte de gente que aos poucos foram perdendo a roda e sobrando. O Bravinho não. Ele chegou junto com os caras, em pelotão formado.

Bravinho alinhado para largar com a elite no Granfondo, no sábado (Créditos: @burnnathan_)

Pensa que acabou? Calma que tem mais.

Acontece que nas provas de ciclismo de estrada, a UCI tem um padrão de proibição de marchas pesadas para a categoria Junior e Juvenil (abaixo de 18 anos de idade), com o intuito de regular a tensão muscular máxima que eles podem fazer. Como o Granfondo Estrada Real em Ouro Branco adotou os padrões UCI, a bike do Bravinho teve que passar por uma inspeção, onde limitaram o parafuso do câmbio traseiro dele, eliminando as marchas mais pesadas.

Considerando uma disputa na categoria Junior, todos teriam a mesma restrição, logo não haveriam desvantagens, então todos iriam disputar com a mesma cadência alta nos planos e descidas. Mas o Bravinho estava disputando com marmanjo de 20 a 30 anos, na geral, e esses caras tinham 100% das marchas funcionando. E ele chegou em terceiro, colado nos caras. E no dia seguinte fez primeiro geral no XCM.

E como vocês acham que se constrói um fenômeno como esse, já aos 16 anos de idade?

É muito fácil ver que a variável “horas-voo” conta bastante por aqui. Eu vejo pessoalmente o Bravinho na trilha desde que ele tinha 8 ou 9 anos de idade. Desde aquela época, já zerava todas as subidas com a leveza de um passarinho.

Sempre andou de bike rígida, que acredito ser o mais certo para quem ainda tem tanto chão pela frente – e tão pouco peso para carregar. Ele tem um treinador incrível lá na OCE, que sempre discute todos os detalhes técnicos de performance e saúde com ele.

E a variável que tem que entrar nessa equação, que o Bravinho sempre praticou com muito êxito, é uma que as vezes esquecemos de colocar nas nossas planilhas de treino: diversão.

O Henrique é um garoto que desde sempre curtiu muito andar de bicicleta. Muito. Sempre com o sorriso no rosto a cada pedal. Em todas as vitórias e frustrações, chega com um sorrisão, aproveitando o momento que teve em cima da bicicleta.

Não se faz um campeão sem paixão.

Nenhum empresário de sucesso trabalha por amor ao dinheiro, mas por amor àquele produto ou serviço que eles produzem com tanto carinho.

Quando o atleta levanta as mãos na linha de chegada, não está comemorando o cheque ou promoção na equipe, mas sim aquele sentimento incrível que a bicicleta nos dá, acontecendo mais uma vez em sua vida. E como disse Peter Sagan: “Andar de bicicleta me faz a pessoa mais feliz do mundo. Cada vez que subo na bike é como se eu voltasse a ser criança”

E é isso que queremos para os nossos futuros campeões: não que eles vençam tudo, mas que mostrem sempre aquele sorrisão de criança, da época que subiam as ladeiras igual passarinho.

E a gente vai acompanhando daqui todo esse vôo. Vai Bravinho!

Foto: Hanna Gabriela

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