Por Breno Bizinoto
Parece que foi ontem que implantaram o VAR no futebol. Lembro até hoje de escutar na TV aberta (na época a gente ainda utilizava essa tecnologia obsoleta) um comentarista esportivo dizendo que acabaria o que há de mais clássico no futebol: as discussões de boteco.
Segundo ele, ao implantar o VAR, não haveriam mais as discussões sobre uma possível falta que deveria ter sido cobrada pelos juízes e então as famigeradas brigas de bar. É incrível como o ser humano se sabota para viver na dúvida e escuridão, com medo do novo. Medo de tecnologia.
Parece que foi ontem que apareciam as primeiras bikes elétricas formalmente vendidas no mercado, na época ainda eram bikes urbanas, não existiam as E-Mtbs. Um amigo disse em um grupo: “Essas bikes são a maior furada. Pesam muito. Imaginem se a bateria acabar! Fica impossível chegar em casa!”
Disse pra ele que os carros também eram uma furada, pois se a gasolina acabasse, não dava pra sair do lugar. Vamos voltar a usar as charretes, ora pois!
Parece ficção, mas não é. Se voltar no tempo, a gente vê que é muito comum as pessoas terem medo de tecnologia e inovação.
E quando surgiram os aros 29? Freio a disco, quadro de carbono, full suspension, 2×10, 1×11, 1×12? Eu estava lá e vi a catástrofe. Todas foram criticadas.
Lembro da grande campanha para proibir os discos de freio nas road bikes, mesmo eles já sendo implantados há anos nas MTB.
Logo surgiram vários casos catastróficos de atletas amadores que se acidentaram com os discos de freio, curiosamente só na road, nunca no mtb – era tudo mentira. Hoje os discos já são liberados nas provas UCI profissionais e mesmo com os diversos tombos de pelotão que acontecem, nenhum caso sobre mutilações pelos discos voltou a aparecer. Acho que serve como prova de que os casos anteriores eram meras manipulações.
É claro que um disco em alta velocidade pode cortar alguém, assim como uma bike elétrica sem bateria não vai andar tão bem. O carro sem gasolina, mais ainda. Mas mesmo assim, a inovação sempre fala mais alto, pois quase sempre ela funciona.
Aquela relação de marchas da Ceramic Speed no formato de virabrequim já foi apresentada há muito tempo, mas nunca chegou no mercado, pois obviamente ainda tem pontos cegos. Aquelas suspensões Lauf também nunca foram um negócio que fizeram sucesso como prometeram assim que lançadas. As suspensões invertidas da Rock Shox venderam muito bem no primeiro ano, depois disso, nunca mais. Sim pessoal, o mercado tenta nos enganar, mas não consegue sustentar por muito tempo um produto ruim.
Lembro-me das fatbikes, se é que isso pode ser considerado um exemplo de tecnologia morta. Pensávamos que iríamos ver essas bikes nos circuitos mundiais de XCO e principalmente XCM, pois em suas primeiras aparições ninguém entendia ao certo o que sairia dali. Atletas chegaram a conseguir bons resultados com elas. Era mais ou menos a mesma discussão quando surgiram os aros 29. Na verdade, os aros 29 foram muito mais apedrejados do que as fatbikes, mas, quem morreu foram as fat.
Na história da música, as guitarras elétricas foram uma piada em sua primeira aparição. Nos relógios, quando os ponteiros sumiram e apareceram os primeiros mostradores digitais, as convenções mundiais de relojoeiros (existe um nome, mas não me lembro) deram gargalhadas daquilo – e perderam muito dinheiro por isso.
E provavelmente a gente ainda vai repetir o erro na história da humanidade. É muito comum ainda escutar perguntas como “Canote retrátil é bom mesmo? Tubeless vale a pena? Esse novo componente cerâmico é enganação ne? Esse lançamento aí dessa marca, que papelão em?”
Acontece que, diferente de esportes como o futebol, o ciclismo está muito mais pautado na tecnologia. Eles só têm o exemplo do VAR e talvez de uma chuteira com um material mais inovador. A gente tem uma infinidade de peças, regulagens, suspensões, tipos de óleos, graxas, medidores de potência, câmbios, peças eletrônicas, freios, sistemas de resfriamentos, motores das ebikes etc.
Em alguns desses pontos, parece que estamos bem evoluídos tecnologicamente, mas na verdade ainda engatinhamos. É o exemplo dos motores elétricos e baterias. Será que um dia vamos ver uma evolução muito significativa por ali?
Por favor, não riam das minhas perguntas. Vocês não querem se juntar ao seleto grupo de pessoas que riram das guitarras elétricas, dos relógios digitais e aros 29, querem?
Não fiquem parados, sentados criticando, enquanto os corajosos se jogam na tecnologia e largam na frente.
A palavra chave para quem quer andar melhor é inovação.
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